A prática do xamanismo é associada aos índios norte-americanos, no entanto, o xamanismo sempre existiu em todas as civilizações. Consiste de uma série de práticas ritualizadas que nossos ancestrais realizavam para conexão, comunicação e integração com o Eu maior, a Inteligência Suprema, o Self. Esses ritos agem no sistema corporal, psíquico/emocional, espiritual, harmonizando, curando, elevando o Ser. Como nunca existimos em nossa história fora da criação, essas práticas essenciais para a evolução e para a conexão com o Criador sempre existiram desde a aurora dos tempos.
Dentro dessas práticas incluem-se: a meditação, a intuição, canalizações, clarividência, telepatia, purificação, empoderamento, respiração, o canto de mantras e músicas, as viagens xamânicas com tambor, a tenda do suor, vivências na natureza, a cura xamâmica através das mãos, através do resgate da alma, construção de objetos de poder, trabalho com cristais, com as árvores e ervas, com os elementais, os quatros elementos, roda da medicina, a contação de histórias e mitos e por ai vai.
Existe uma infinidade de técnicas de cura, de conexão, de transmissão do conhecimento, uma infinidade de objetos de poder, de rituais dependendo da cultura, da tradição que se segue e da egrégora a qual se está associado.
A importância dessas práticas, principalmente nos dias atuais em que nos distanciamos demais de nós mesmos, é que nos traz para a sensação da “volta para casa”, de pertencimento. A volta para aquele lugar onde nos sentimos mais seguros, centrados num poder maior, num amor que transcende e vira compaixão por nós e o pelo outro, ou pelo humano em nós e no outro, que transcende a personalidade e nutre, protege, cura e nos conecta a todos os seres vivos a partir de uma perspectiva mais profunda, humana e compassiva. Este lugar existe dentro de cada um, um espaço de silêncio e movimento, pura intenção e sentimento, um lugar sutil entre o céu (pensamento-imagens-logos) e a terra (corpo-sensação-emoção). Acessamos esse espaço sagrado pela nossa vida, pelo nosso corpo, na criação do nosso dia-dia, encarnado no aqui-agora.
Um dos maiores valores do conhecimento xamânico reside em seu respeito à natureza e ao resgate do poder pessoal. Pensamento ecológico que o torna tão atual. No entanto, a natureza a que me refiro não diz respeito apenas a natureza mãe-terra e suas lindas paisagens, animais, plantas e sua incrível biodiversidade, mas a natureza interior do Ser. Ou seja, nossa natureza interna, nosso espaço interior o qual devemos cuidar, reconhecer e reverenciar. Para que assim possamos reverenciar e cuidar do planeta que nos acolhe com igual respeito.
Aprendemos sim com o xamanismo que a mãe terra é mãe de todos e por isso, somos todos irmãos nessa experiência humana. Dessa forma seria muito mais sensato darmos as mãos e ajudarmos uns aos outros. Utópico e meios piegas, não? Pois é, mas melhor tentarmos de qualquer jeito, de uma forma que seja possível e real, que nos faça sentido.
Para alguns isso é muito chato, sentimentalismo. Toda essa coisa de Poder Maior, de Deus, de compaixão e etc, esses valores espirituais de cooperação, de amor ao próximo, de perdão, de que somos todos um são muito chatos e não servem para o propósito da vida “real”, da vida prática. No entanto, esse pensamento nos conecta com valores ligados a luta pela sobrevivência, tanto física como também a luta pelo poder, a sobrevivência do ego, de nossa personalidade. Essa luta que cria uma realidade onde tem que existir um vencedor e um vencido, um dominador e um dominado. No entanto nessa luta esquecemos quem somos, perdemos nosso espaço, esquecemos nosso propósito e que não estamos aqui para lutar, dominar e sobreviver, mas sim para viver de forma mais digna e evoluir. Estamos vendo agora que essa forma separada e ilusória que temos vivido cria uma série de patologias físicas, emocionais, mentais e sociais, pois é uma forma destrutiva de se viver. Claro que a situação que chegamos e que o mundo vive com: guerras, desastres naturais, crises financeiras e etc tem nos aberto os olhos para outras possibilidades. Surge na alvorada da crise de novo o belo conhecimento do xamanismo. Além da sabedoria do Oriente, a física quântica, as terapias mais holísticas, para nos mostrar o caminho de volta para casa, para nossa essência. É a partir desse espaço amoroso do qual nos afastamos que podemos começar a viver de forma mais digna e criar um mundo mais harmonioso para nossos filhos. Fazemos isso vivendo totalmente o presente, sem negar a matéria e a sobrevivência física, mas com o propósito correto da vida, de se realizar e viver o Ser criativo em nós.
Independente de como se escolha viver, o trabalho espiritual consiste em aumentar a nossa presença, a flexibilidade de ser nos vários momentos que se seguem e não ficar preso a um papel, a um momento passado. E para isso, temos que largar certos conceitos ou pré-conceitos, certas padrões de comportamento, fazer lutos, abandonar a culpa. Até a busca espiritual pode ser um bloqueio ao encontro espiritual, a estar presente no momento que é puro movimento e dinamismo, é criatividade.
E a partir dessa presença é possível sentir maior alegria, liberdade, vitalidade, mesmo numa situação de vida difícil, atravessando algum problema de saúde, de relacionamento, de dinheiro e etc. Pois a partir da abertura para esta presença um sentido maior se faz, há um motivo para o qual estamos vivendo certa situação, existe uma intencionalidade, uma teleologia, ou seja as coisa existem para um propósito maior e transcendente. E normalmente a vida está sempre nos trazendo de volta para nós mesmos buscando a transcendência. As situações nas trazem desafios para desenvolvermos aquelas partes em nós que precisam de mais atenção, de maior presença. Ao enxergar a vida dessa forma, começamos assim a nos conectar com nossa natureza. E a vida passa a ser uma grande desafio, uma grande aventura.
Com o estudo e a prática percebemos o quanto estamos interconectados a uma grande sistema inter-relacional e que aquilo que fazemos a essa grande rede de conexão nos afeta diretamente. Assim como o que fazemos a nós mesmos afeta essa imensa rede mundial de seres viventes. Podemos com esse pensamento começar a nos incluir dentro do processo de evolução, de cura, de iluminação.
Com o advento da mente racional e do pensamento cartesiano pensávamos que existia o observador e o objeto, como duas entidades separadas. O homem passou a se separar da experiência viva da vida. Pensou que com esse paradigma fosse possível através da ciência conhecer o mundo e controlá-lo, desenvolver, evoluir, curar. para isso criou as ciências tal como a conhecemos. No entanto os estudos recentes da física quântica vem nos mostrar que não há separação entre observador e objeto. Ou seja, o comportamento do objeto é inerente a natureza de quem observa. Esse novo paradigma da ciência vem corroborar com a visão xamanista de que estamos incluídos dentro de todo o processo físico-emocional-psíquico-espiritual em nossa vida. Somos responsáveis pelo que nos acontece, pois percebemos o mundo a partir de nossa natureza interior. Criamos e atraímos os eventos e damos significado ao que nos acontece de acordo com nossas crenças e emoções, de acordo com esse magnífico mundo interno de sensações, emoções, imagens. Podemos mudar a forma como criamos a vida sendo um agente ativo de transformação interior e exterior.
Estamos sempre criando a partir de nossa natureza interior, o que vivo a cada dia é uma criação minha, é a minha qualidade de experiência e será até o momento de minha morte. Assim se eu quiser que minha vida seja diferente devo começar mudando a mim mesmo e não querendo mudar o mundo ou o outro. Essa conscientização de que podemos mudar o mundo a partir de uma mudança interna é um primeiro passo. E começa com a aceitação da vida tal como ela é. Simples, não !? A complexidade existe em viver o momento presente e entrar no fluxo da vida, pois somos muitos como vou falar no próximo artigo.
Nenhum comentário:
Postar um comentário